quarta-feira, agosto 02, 2006

Amigos

Ontem eu recebi uma carta de uma grande amiga. Não foi email, nao foi sms, foi uma boa e velha carta, pelo correio, selada, com destinatário e remetente escritos à mão. Dentro, o convite de aniversario de 4 anos da filhinha dela e uma dedicatória manuscrita. Nos práticos tempos de internet, ela nao só lembrou de mim, como se deu ao trabalho de escrever de próprio punho e ir no correio postar. Esse tipo de coisa, que não acontece mais hoje em dia, pra mim fez toda a diferença. Brigado Carmencita!

Sao 5 horas da manha, agora a pouco me deparei com um grande amigo no msn, conversa vai, conversa vem, o cara pegou o telefone e me ligou de sopetão. Só então percebi que já fazem anos que a gente não se vê (ele mora do outro lado do oceano) e que eu gosto desse cara pra caralho. Saudades tuas Carlinhos fdp! Em breve apareco por estas tuas bandas...

Estou me sentindo em divida com os meus amigos, vários deles, os que importam. Segue abaixo, na íntegra, uma crônica de Vinicius de Morais que ja foi mutilada e apropriada indevidamente de todas as formas possiveis. Vem bem a calhar neste momento.

Amigos
Vinicius de Moraes (1913-1980)

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.

E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências…

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.

Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.

Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo!

Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer…

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse texto é realmente foda! É Vinicius! Publiquei esse texto em meu espaço quando do meu aniversário. Simplesmente fudido!
Abraço